Prometi ao Ricardo que escreveria para terça. Quarta, se assim as exigências artistícas o requeressem. Peguei na caneta era ainda segunda-feira. Nada. Voltei a pegar na arma, pronta a fazer das vítimas mártires. Uma caneta, sim, que eu ainda sou disso. Tudo soa melhor quando há tinta a arranhar papel. Nada. Quarta surgiu como um saltinho. Tal como quinta. E nada. Desiludi-me. Pior. Desiludi-o. Desiludi alguém de quem muito aprendi. Profissional; Musicalmente. Pessoalmente, que tudo é intríseco. Escrever também é uma expressão, um exercício artístico. Escrever não é, somente, uma agremiação lexical. A presunção de compor pronomes e adjectivos de forma quiestionável. E muitos há, escritores, actualmente. Cada um escreve; é jornalista do seu próprio jornal.
Não me contento com pouco.
Escrever, é dar algo de mim. É dar aquilo que posso, em falta de mais. Em falta
de um qualquer outro artifício ou capacidade. Escrever é o meu instrumento. As
cordas que dedilho, o microfone que vocifero. Exijo as palavras certas. Escrever
é, ainda, um exercício artístico.
Estou enclausurado. Sinto-me limitado.
Estrangulado. Artistica e inspiracionalmente. Não me sinto inteiro, sou metade.
Preciso de algo, preciso escrever. Hoje é sexta. Pego nos fones, vou correr.
Ouço aquilo, sobre o qual se suporia haver escrito noites atrás. Rumo a norte,
enquanto me afasto. Enquanto me afasto do negro. Para onde tudo é azul. Não
ando em círculos, continuo rumo a norte. A corda desaperta-se. Lentamente. Palavras
fluem. O negro torna-se azul. A metade torna-se inteira. Tudo é ouro sobre azul
agora. É azul, o norte.
João Pedro Cordeiro