QUESTÃO DE OPINIÃO



"2011, Odisseia no Palco"

2011 foi o ano das reuniões. Nos últimos meses temos assistindo a uma inúmera quantidade de bandas que se decidiram reunir. Os Give up the Ghost reuniram-se, os Verse reuniram-se, os DYS reuniram-se, os Hot Water Music reuniram-se, os Promise Ring reuniram-se e, pasme-se, até os Stone Roses e os Black Sabbath se reuniram. Até por cá há reuniões, como a do badalado passado fim de semana – ainda que pontual e excepcional -, dos New Winds.

Mas, as reuniões estão longe de ser um consensual objecto de felicidade desmedida. São muitas as vozes de discordância, perante tal decisão, que se fazem ouvir nestas alturas. Por entre comentários mais jocosos, e outros menos simpáticos, as bandas são, quase sempre, associadas a interesses económicos aquando destas decisões.

Há, no entanto, questões que têm de ser ponderadas. A decisão inicial de cessar funções enquanto banda, tem base em assuntos de cariz pessoal da própria banda e só a ela lhe diz respeito. O mesmo é dizer que, anos ou mesmo meses depois, esses mesmos assuntos deixam – ou podem deixar – de fazer sentido para a banda. Da mesma maneira que, um passado cultivado em conjunto, de memórias muitas vezes douradas, com aqueles que são, na maioria das vezes, os melhores amigos, pesará sobremaneira na decisão da banda em voltar a tocar junta. A ideia é: todos temos momentos em que, aquilo que fazia sentido há meses e anos atrás, deixa de o fazer na actualidade. Existe ainda a saudade de momentos passados e criados com base, neste caso, naquela banda que tínhamos.

É por isto, que há que compreender a posição das bandas e abrir a mente para lá de algo que tem razões bem mais alargadas que somente económicas. E, convenhamos, pelo menos a nível do hardcore, ninguém fica rico com estas reuniões. Qualquer pessoa que esteja minimamente dentro da cena hardcore tem de ter esta noção. O Wes Eisold decerto já fez mais dinheiro com Cold Cave que fará com as reuniões de Give Up the Ghost. Mas, também digamos, se uma editora como a Deathwish ou a Equal Vision fizerem dinheiro suficiente com reuniões como a dos GUTG, para lançar mais e novos excitantes projectos, como podemos criticar?

Da mesma maneira que, para bem da verdade, todos temos aquele desejo íntimo, há demasiados anos, de ver a nossa banda preferida reunida. Quem não gostaria de ver os Black Flag reunidos? Ou os Refused? Até mesmo os Minor Threat? Quem é que se queixa de poder ter visto os Gorilla Biscuits ou os Youth of Today recentemente? Quem é que, por cá, não gostaria de ver – caso fosse possível – os X-Acto reunidos? Ou mesmo os Day of the Death ou os Shoal? Eu sei que não, pelo menos.

As reuniões e os tributos são assuntos delicados. Acima de tudo, as bandas devem ser honestas consigo mesmas e fazer justiça ao legado que deixaram. Da mesma maneira que o público deve ter em mente que a decisão de uma banda em se voltar a reunir, decerto ultrapassa motivos estritamente económicos. Afinal, os Verse não são os Pink Floyd. Os GUTG não são os Queen. E nem a Deathwish nem a Equal Vision são a Sony ou a Universal. E, tudo o que eu sei, é que ficarei extremamente grato às bandas se isso me possibilitar vê-las uma única vez ao vivo.
João Pedro Cordeiro

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