A Thousand Words Euro Tour 2012 Report






A melhor cena de ter uma banda é podermos viajar e conhecer cidades e sítios novos que nos vão marcar para sempre. Infelizmente, nós tugas, estamos no cú da Europa e cada vez que queremos ir lá fora é sempre um sacrifício em termos de dinheiros, viagens longas, etc.

Lembro-me bem quando um grupo de miúdos de Quarteira me perguntou, em Novembro de 2008, se podia gravar a Demo deles na minha sala de ensaios... Curti do feeling e da sinceridade deles e convidaram-me para tocar baixo nesse mesmo dia.. Acabei por sair da banda  por opção própria em meados de Fevereiro de 2009 com  uma demo e 3 concertos brutais.

Precisamente 2 anos mais tarde, convidaram-me para voltar. Desta vez, para ocupar o lugar de baterista. Tinha havido uma mudança gigante na formação, mas muita vontade de fazer cenas, o que me cativou bastante.

Depois de alguns shows e muitas viagens no meu Golf 2 com 5 manos a 80 à hora para poupar guita na Nacional lá conseguimos arranjar uns trocos para gravar o nosso 7´..  

Falámos com algumas editoras na tuga e acabámos por nos virar para a Ruins Records que ficou a cargo do 7´´ .. alguns de nós já conheciam o Odair de outras andanças, mas criámos um laço de amizade bem forte num fim de semana que tivemos em que o 2º concerto foi cancelado e ficámos pelas Caldas a beber copos e na galhofa uma tarde inteira com os Lifedeceiver, acabando o Odair por vir para baixo connosco.

Foi mais ou menos nesta altura também que surgiu a ideia de fazermos uma tour europeia com os nossos amigos Hard to Deal. Tocámos algumas vezes com eles e foi sempre super divertido.

O Rafael Madeira da Impact Bookings começou a marcar a tour. Infelizmente a cena hardcore está sempre a mudar e muitos dos bookers que marcavam Pointing Finger, Broken Distance, ou até mesmo Critical Point, há um ano atrás, deixaram de marcar shows e alguns deixaram de marcar bandas pequenas visto que, muitas das vezes, o dinheiro que fazem nas entradas não dá para pagar som e a sala.

Depois surgiu outro problema: carrinhas a 100 Euros com caução de 3000 Euros. Nesta altura desligámo-nos um pouco. Tínhamos 2 concertos marcados, apenas 1 estava confirmado e sem qualquer garantia monetária... Imaginem isto a 3 meses da tour... Caos ! 

Curiosamente na altura que os Hard to Deal decidiram cancelar a tour, foi a altura em que os bookers começaram a responder. Foi a mesma altura que conseguimos um bom deal de carrinha com a ARCM de Faro.

Faltava 1 mês e ainda tínhamos cerca de 7 dayoffs. Foi nesta altura que o Rafael disse que não conseguia marcar mais nada e eu e o Diogo agarrámos o resto das datas. Com a ajuda do Pavel de Daydream, do Congas de FTG e do Edgar de Challenge conseguimos marcar o resto das datas.. 



DIA 1: LISBOA / PORTUGAL



Era suposto termos agarrado a carrinha à 1 da tarde mas a essa hora a carrinha ainda estava na oficina. Passado uma hora, e já com carrinha, viemos buscar o backline completo a minha casa. Pelo caminho agarrámos o Valter ( Take The Risk Recs / Broken Distance / Pressure / Critical Point ) e o Patrick. O Valter é um boss das tours - esta foi a 9ª ou 10ª tour que ele fez - e tê-lo como roadie é sempre bom para as conduções, risotas, etc.. O Edgar de Challenge foi também connosco, e foi praticamente o 5º elemento de ATW nesta tour. 




Nacional e 4 horas depois chegávamos a Lisboa um pouco atrasados, já o Bruno da No Borders DIY estava à nossa espera, montámos as cenas bué rápido e passado um bocado começa o show. A sala estava mais ou menos composta. Devo dizer que estava bastante nervoso pois se aquele show corresse mal em termos de entradas e merch tínhamos a corda ao pescoço... Algo que não aconteceu. Apareceram cerca de 80/100 pessoas e vendemos bom merch. Partilhamos bastantes amigos entre as bandas de abertura o que gerou um ambiente bastante bom. Foi bem fixe ver os One Last Struggle a tocar, é raro hoje em dia ver-se bandas Straight Edge com miúdos novos, Northern Blue mostraram mais uma vez ser uma das melhores bandas nacionais actualmente e Lifedeceiver foi Top Notch! Fomos dormir a Pombal, pois o Diogo e o Renato ainda tinham cenas para agarrar. Foi nesta altura que reparámos que a carrinha consumia bué! Logo viagens a mais de 120 à hora estavam fora de questão. 

DIA 2 – MADRID / ESPANHA


Acordámos às 7 da manhã. Ainda estivemos cerca de 1 hora e tal à espera da princesa Major e lá nos fizemos à estrada. Nacional cá vamos nós... demorámos bué tempo a chegar a Madrid! Pelo caminho vimos paisagens magníficas que me fizeram pensar que o interior de Portugal é realmente bonito. Passámos a fronteira por um caminho super estreito no meio da serra. 

O relógio batia as 7 da tarde e chegávamos ao Barracudas. Lugar à porta para estacionar, impecável! Entrei na sala e só me veio à memória o concerto de Have Heart que vi lá em 2008. Montámos o nosso backline todo, merch e ficámos à espera do promotor do show e das bandas suporte. Passado uma meia hora chega o promotor com os Ultima Victima, uma banda mexicana que estava em tour - curiosamente esta foi a primeira data da tour deles. Estivemos um pouco à conversa com eles. Disseram-nos que apreciavam bastante a cena portuguesa e que conheciam New Winds, Pointing Finger e Reaching Hand. O concerto foi meio buraco e o promotor mal conseguiu pagar aos Mexicanos. Ainda vendemos bom merch e tivemos jantar... sempre melhor que day off! 
Apesar de tudo, estávamos com muita raiva dentro de nós e demos tudo nessa noite, recebemos bastantes elogios e lembro-me também que os Mexicanos no cover de Unbroken ficaram completamente loucos e varreram a sala como só os latinos sabem fazer. Foi bom ver alguns amigos que hoje em dia trabalham em Madrid e deram um saltinho ao concerto. Algumas fotos e abraços e arrancámos para uma viagem infernal de 12 horas... ou mais ! 





DIA 3 – LORIENT / FFRANÇA


Viagem super longa! Não houve banho nem dormida. Parámos numa das últimas bombas de gasolina Espanholas antes da fronteira com França para encher o depósito e, por azar, estacionámos numa bomba de abastecimento para camiões... O relógio batia qualquer coisa como 6 da manhã. Fui meter gasóleo e o plano era atestar. Ao atestar, a mangueira estava com demasiada pressão acabando por deitar gasóleo para fora, o resultado foi o depósito da carrinha cheio e eu completamente encharcado de gasóleo no casaco e nas calças... No big deal. O pessoal reclamou um bocado do cheiro nos dias que se seguiram! Chegámos a França e... nacional connosco. As portagens em França são um exagero. Ainda mais que em Portugal! 

Chegámos ao spot do concerto, um bar chamado “Le Gallion”. O promotor do concerto, já estava à nossa espera e, mal chegámos, jantámos que nem uns desalmados. Ainda estivemos à conversa com ele lá fora antes do concerto sobre as tours que ele fez com Nine Eleven, como roadie, e esteve-nos a falar sobre a cena hardcore actual em França.


Este concerto não era apenas um concerto “Hardcore”. O promotor conseguiu arranjar uma maneira de cativar pessoal fazendo uma espécie de festa do estilo “Moustache Night”. O que acabou por ser uma boa ideia. Bué pessoal aderiu o que garantiu uma boa casa. Tocámos com Burning Bright e eram dudes bem fixes, conheciam algumas bandas tugas como Adorno, I Had Plans, If Lucy Fell... O relógio batia 23.00 horas quando começamos a tocar. O set foi fixe, side walks, two step... Ficámos bem contentes. Acabámos de tocar, carregámos as cenas, e com muita pena não ficámos até ao fim da festa do bigode. Por esta altura o promotor do concerto seguinte envia-me um email a confirmar a hora da nossa chegada a Nurtingen, perto de Estugarda. Tínhamos de estar lá às 3 da tarde em ponto para metermos o backline no concerto. Eu respondi-lhe que seria uma bocado difícil mas íamos dar o nosso melhor. 



DIA 4 – NURTINGEN / ALEMANHA

1120 Kms a atravessar França de uma ponta a outra. O Valter e Diogo deram-me uma ajuda preciosa nesta viagem pois estava super morto para conduzir. Lá agarrei na carrinha a cerca de 200 kms do local do concerto. Chegámos a Nurtingen enchemos novamente o depósito da carrinha e ficámos com 10 Euros na caixa da banda.. Por esta altura comecei a ficar nervoso.


Chegámos ao sitio do concerto, um Youth Center bem ao estilo da Alemanha, condições brutais. Wi-Fi à boss, WC/ Chuveiro melhor que a da minha casa, colchões para dormir, backstage cheio de comida, petiscos, fruta...

Montámos o backline completo com a ajuda do bacano do som e, passado um bocado, chega o promotor, Andy. Ficou bem contente por termos chegado a horas e termos cumprido com o prometido. Passado um bocado chegam os Cold Burn, Awaken Demons e os World Eater. Cold Burn fizeram soudcheck. O som estava um granda abuso e a noite prometia. Demos os nossos merecidos banhos, jantámos que nem reis e ficámos lá a chillar pelo backstage até à hora do show começar. Outra cena que amo na Alemanha: os concertos começam cedo e acabam cedo! Tocou uma banda antes de nós Diversity. Era ok mas notava-se que ainda estavam verdinhos. Tocámos em 2º para uma sala bem composta e foi  fixe, metemos ainda lá alguns miúdos a moshar e a fazer circle pits o que me deixa sempre de sorriso na cara. Acabámos de tocar e bué miúdos foram logo agarrar o Vinil e Shirts. O Valter trabalhou bem nesta noite. 


Lion City tocaram a seguir de nós, tinham um riff super roubado a Minor Threat que o guitarrista não quis admitir de maneira alguma. Ainda rimos bué com ele. Super bêbado a dizer que nos safava uma data manhosa que tínhamos na tour. “sim pessoal eu ajudo-vos... marcamos um house show... vai ser totalmente ilegal e se a bófia aparecer tem de acabar. O espaço nem é nosso sequer mas siga!" Óbvio que quando lhe passou a bezana passado uns dias a conversa foi outra e acabámos por dar esse concerto manhoso em Uffenberg que já estava marcado. 

World Eater a seguir e o Edgar a espalhar magia lá à frente, concerto bem pesado e dudes 5 estrelas. COLDBURN! É para estar mesmo a negrito. Pá, vou ter de ser sincero, foi a melhor banda que vi em tour. Tocam um som que faz lembrar bué No Warning. Se gostas do Ill Blood, checka esta banda por favor! Meteram a sala inteira a mexer. Awaken Demons fecharam a noite, não teve metade da jarda de World Eater ou Cold Burn mas ainda assim foi ok.



Fim do concerto e a suposta caixa que tinha chegado com 10 Euros já estava composta para nosso alivio. Fomos comer batatas fritas a um spot de Kebabs lá perto do show com o pessoal de World Eater e foi bem bacano. Voltámos à venue para dormir e os Awaken Demons já estavam lá a crashar pois tinham de bazar às 6 da manha para Itália. Assim que os tugas chegaram lá, a noite de descanso deles acabou... Eu e o Valter mal adormecemos demos inicio ao nosso concerto. Os Italianos não conseguiram dormir nada com o ressonanço dos tugas e tiveram de bazar a meio da noite... ahahaha.

DIA 5 – BERLIN / ALEMANHA 



Berlin é uma das minhas cidades Europeias preferidas. Tive a sorte de estar lá 2 vezes, uma delas com Broken Distance, em que estivemos 6 horas sentados numa esplanada de café à espera que a policia com um corpo de intervenção gigante incluído helicópteros fechassem a squat onde tocámos no dia anterior e onde estava ainda o nosso backline todo... Foi Wild. Curiosamente aconteceu-nos uma cena idêntica com ATW o ano passado em Sevilha mas não foi tão grave. 





Voltando ao que interessa, Berlin é uma cidade fascinante em vários aspectos. Dizem que é a New York da Europa.  Vou ter de ser sincero o que mais me fascina em Berlin não é o muro, nem aquela antena gigante, nem a AlexanderPlatz... são as squats. Berlin está repleta de squats onde encontramos de tudo. Desde concertos, teatros , exposições... E é tudo feito de uma maneira DIY! Isso é algo que a mim, e a ATW, diz muito. E, para ser mais fixe ainda, íamos tocar um Benefit que revertia a favor de Activistas dos direitos dos animais!



Infelizmente, chegámos um pouco tarde e já a primeira banda estava a começar mas sem crise visto que eram 7 bandas. A sala era bem fixe e tinha um palco com 3 palmos de altura. O promotor era super impecável e deu-nos um dos melhores jantares da tour ! 

Começa a tocar a segunda banda, os Wood e que jarda de banda... Morning Again chapado com uma vocalista completamente frenética. Ainda estivemos lá de conversa com os The Storm que tocavam antes de nós e que partilham alguns amigos connosco de pessoal de Something Inside. Tocaram outras bandas que não prestámos muita atenção devido ao nosso cansaço e só acabámos por ver o set dos The Storm, foi um bom set e a sala ficou em altas quando tocaram a No Spiritual Surrender de Inside Out. Chegou a nossa vez e dei a dica ao promotor se podíamos meter a bateria mais à frente e no chão, visto que já se fazia tarde e algum pessoal tinha acabado por bazar por causa das horas. Feito! Tocámos todos no chão e foi brutal... Demos tudo o que tínhamos neste concerto e o pessoal curtiu bué, no cover de Unbroken o roadie dos The Storm agarrou o micro e cantou a música de uma ponta a outra super tranquilo, no tempo e sem vacilar uma única vez. Ver a sala inteira a cantar Unbroken deixou-me com um granda sorriso na cara, a seguir tocámos a Sinners e armou-se um circle pit mesmo à antiga. Acabámos de tocar, arrumar as cenas, checkar as bancas vegans e crashar na casa de um amigo do promotor que morava a 200 metros da sala do concerto. Perfeito!

Na manhã a seguir acordámos por volta das 11,  banho sagrado e fomos comer um granda piteu Vegan ao YoYo´s. Girámos um bocado por Berlin, não tínhamos muito tempo, e focámo-nos na zona do muro. Depois, paragem obrigatória na Coretex! Estacionámos a carrinha mesmo à jungle lá perto e siga gastar uns Euros. Acabámos por encontrar lá o baixista dos Wood e ainda tivemos um pouco à conversa com ele.





DIA 6 -  HAMBURGO / ALEMANHA 

Viagem curta. 300 kms. Chegámos ao Rote Flora eram cerca de 8 e picos da noite e estava um ambiente muito dark ahahah... Estavam bué mitras à porta a venderem droga mesmo à cara podre. Mal estacionámos a carrinha abordaram-nos de uma maneira nada amigável o que gerou algum desconforto. Mal abrimos a carrinha começaram a sondar o que tínhamos e seguiram-nos para dentro da venue... Já lá tinha estado no Rote Flora e aquilo não era assim... Descarregámos tudo e não deixámos lá um único pintelho dentro.



Segunda feira é sempre um dia bastante manhoso e não havia garantias de nada, ainda assim o  promotor marcou o show e apareceram 20 pessoas, alguns deles amigos de longa data das tours de Pointing Finger o que acabou por ser bem fixe.

Tocou uma banda antes de nós, os Planner. Tocam um som que não pegou moda na tuga mas que lá fora já anda batido desde 2007 pelo menos. Imagina Cloak Dagger, Adolescents, Descendents antigo... essa onda. Tocámos a seguir e foi podre ahahah. O som da sala era horrível  o pessoal que estava lá só mexia a cabeça, demos uns pregos valentes e não passou disso.  Acabou o concerto, carregar tudo outra vez para dentro da carrinha e os mitras sempre a sondarem o que fazíamos.

Felizmente nem tudo foi assim tão mau, o promotor tinha feito um concerto 4 dias antes e conseguiu guardar algum dinheiro para este show e acabou por nos pagar super fixe para uma segunda-feira. Fomos dormir acasa dele, prendou-nos com umas torradas ao fim da noite e deliciou-nos com um pequeno almoço bem nice.  Pedimos-lhe a password da net ao que ele responde que não sabia e até nos deu o computador dele para usarmos. O Valter não se conformou e assim que o bacano se foi deitar foi a caminho do router da net e conseguiu sacar a password. De manha, enquanto tomávamos o pequeno almoço com o promotor, estávamos a usar e a abusar da net. Ele deve ter pensado: estes tugas estão a gastar rios de dinheiro em Roaming... ahahaha NOT ! 

Sair de Hamburgo foi um filme.. Estivemos 3 horas sempre no mesmo local na auto-estrada. O trânsito simplesmente não andava nem desandava... Lá decidimos contornar a situação e optar por uma estrada nacional para fugir às obras na auto-estrada Alemã. Perdemos muito tempo e foi um Stress para chegar a Praga. O Valter acabou por ter de ir sempre a abrir a 170kms à hora ao som do Mantra de Shelter. 

DIA 7 – PRAGA / REPÚBLICA CHECA 



Acabámos por chegar já bué tarde e com o Pavel (Promotor / Guitarrista de Daydream ) super preocupado com as horas do concerto. Mal entrámos na Rep Checa deparámo-nos logo com um nevoeiro que não deixava ver nada à frente ao que o Valter comenta: Moços, estamos no Leste! 

Ainda andámos uns bons Kms na auto-estrada quando nos lembrámos que tínhamos de comprar um selo para poder circular na Rep Checa. Parámos já no fim da auto-estrada agarrámos o selo só para não termos stress com a bófia e seguimos para o spot do concerto.

Chegámos ao Caffé na Pul Cesty e fiquei logo super contente por ver uma sala bem composta e à nossa espera. Montámos o backline todo e os Daydream começaram o concerto. Um set bem 90´s à Outspoken / Inside Out, tocámos a seguir e foi fixe, o Unbroken foi um granda abuso para variar. Pitámos também uma massa brutal e ficámos de conversa com o vocalista de Daydream que é o chavalo que dá abrigo ao Rafa quando ele está em Praga a descansar das tours. 




No dia a seguir acordámos bem cedo e fomos girar pela cidade, almoçámos um granda piteu Vegan no Country Life e sacámos umas fotos bacanas, voltámos à casa da Gabrielle onde tínhamos ficado a dormir na noite anterior para agarrar as nossas malas e ela acabou por vir conosco para o concerto de Liberec, também na República Checa.

DIA 8 – LIBEREC / REPÚBLIC CHECA 



A banda sonora desta tour foi, sem dúvida, o Bloom de Beach House. Ouvimos este disco vezes sem conta e nesta viagem não foi excepção. Estávamos a cerca de 100 kms o que acabou por ser a viagem mais curta que tivémos na tour. Bué nevoeiro e avizinhava-se mau tempo com chuvas e neves nas previsões meterológicas. 

Chegámos antes da hora combinada à venue e o promotor já por lá andava. Montámos as cenas bué relaxados, eu fiquei no backstage a chillar enquanto o resto do pessoal foi jogar a um jogo uma beca parvo saído dos anos 80.



O show acabou por ser bastante bom. A sala tinha capacidade para cerca de 60 pessoas e tava à pinha! A banda de abertura foi uma granda crustalhada com grind core.. o Edgar vibrou bué!  Tocámos a seguir e o pit estava super violento... Estávamos ainda no inicio da Blind, na parte a abrir e tivemos de parar de tocar porque o pessoal tinha mandado abaixo uma coluna do PA que estava presa num suporte. No fim do concerto ficaram meio tristes por não termos mais músicas e por termos tocado “pouco” tempo. De referir que estava um cheiro a ganza na sala que não se aguentava. 

Carregámos, voltámos para a casa da Gabrielle em Praga e fizémo-nos à estrada no dia seguinte onde apanhámos bué neve entre Praga e Nuremberg.





DIA 9 – UFFENBERG / ALEMANHA

Mais umas 7 horas de viagem, expectativas zero para este concerto.

A sala era fixe e bué bandas de Punk/Crust/Grind tocaram lá nos últimos 10 anos pelos flyers que vimos colados nas paredes. Jantámos e ficámos de conversa até à hora do concerto começar.

Éramos a única banda, a miúda que estava a organizar o concerto não conseguiu safar nenhuma banda suporte o que por si já é bué manhoso. Mas, hey, mas vale um concerto manhoso com jantar e possibilidade de vender merch que um day off!

O gajo do som era bué chato e stressou bué, o soundcheck acabou por ser mais longo que o próprio concerto em si ! Tivémos 2 pagantes e foi mais um ensaio que um concerto. Ao todo com o Valter, o Edgar, o pessoal do Bar e a promotora estavam lá umas 10 pessoas. Vendemos 6 shirts.. para 2 pagantes está bem fixe! 

Toquei o concerto em modo ensaio, ou seja relaxado e o Patrick a meio do set até desatinou comigo mas no bom sentido para tocar com jarda e com feeling. E, no fundo, curti da atitude dele mas estava super cansado da viagem. Não interessa se estão 10, ou  100 pessoas no show, o feeling tem de estar lá sempre!!! 

Tivemos ainda a jogar matrecos no fim da noite e circulámos para uma viagem de 1200 Kms até Brest, no Norte de França.

DIA 10 – BREST / FFRANÇA 




Este concerto prometia! Muitos dos miúdos que tiveram no nosso concerto na semana passada em Lorient comentaram que este concerto ia ser um granda abuso e que Brest tinha uma cena hardcore brutal. 

Depois de 16 horas de estrada, atravessar Paris às 7 da manhã, em hora de ponta, parar nos spots da auto-estrada com WiFi, entre outras cenas, chegámos ao local do concerto. Já lá estavam os Direwolves e a outra banda de abertura. O ambiente estava super acolhedor e fomos prendados com um granda jantar e bebida à pala. Para surpresa minha, o meu primo que vive em Paris, fez 600 kms até Brest para nos ver e para estar comigo, o que acabou por tornar este concerto ainda mais especial para mim.

Não vi a banda de abertura e vi um pouco do concerto dos Direwolves que foi um granda abuso. Estava na conversa lá fora com o meu primo quando o Edgar me diz que já tenho a bateria toda montada e é só subir ao palco para começar a tocar. O Edgar como roadie não deu hipótese! Foi uma ajuda super preciosa e, muito provavelmente, se não fosse ele e o Valter a tour não tinha sido tão fixe.

Subimos ao palco, fizémos linecheck, como sempre, e os miúdos já estavam a moshar que nem uns loucos. Pensámos para nós mesmos: se, no linecheck, já está armada esta cowboyada, nem queremos imaginar o que vai acontecer a seguir. O que aconteceu foi o nosso melhor show da tour! Miúdos a cantar as letras, a moshar, dives... A sala estava cheia e o meu primo estupefacto ao ver os Franceses loucos durante o nosso set. Ainda ficámos lá de conversa com o pessoal de Direwolves e, por volta das 2 da manhã, fomos à casa do promotor dar um granda banho e seguir para Bilbao. Mais uma viagem non stop sem dormir. Estava a conduzir perto de Nantes e deu-me uma granda moca de sono, tive de parar a carrinha e dormir cerca de 40 minutos. Por fim lá acordei outra vez meti o Until The End de Battery super alto e seguimos viagem.

DIA 11 – MUNGIA / EESPANHA 


As portagens são o massacre para qualquer banda que anda em tour. Tentámos evitar portagens ao máximo na ida, mas no regresso como já estávamos mais tranquilos de dinheiro decidimos arriscar e fazer auto-estrada até Portugal. O  norte de Espanha, mais propriamente o País Basco, é super agressivo em relação a portagens. Houve uma portagem em que fizemos cerca de 5 kms e pagámos 20 Euros! No Comments... Falámos entre nós da cena da ETA e dos atentados, do facto do concerto ser à pala, do hotel e de tirarmos à sorte quem é que ia ficar a dormir na carrinha para guardar o backline.

Chegámos ao spot do concerto e já estava lá a banda de abertura à nossa espera. Cidade super tranquila. Eram 7 da tarde, noite cerrada, e bué miúdos a jogar à bola na rua como eu fazia quando tinha a idade deles. Actualmente não se vê muito isto... Os miúdos estão “seguros” em casa a jogar PES ou a ver os morangos com açúcar...

Montámos as cenas, fizemos som... o spot era meio estranho. A disposição do palco em si não era a melhor, mas o som até estava fixolas. Tivemos bastante tempo de conversa com o baixista da banda de abertura, o qual comentou que, se o concerto fosse em Bilbao, em vez de Mungia, tinha sido melhor jogado porque Mungia não tem cena Hardcore. Falou-nos de um concerto que ele organizou, em 2004, com Converge e Modern Life Is War, que estavam 25 pagantes. Disse também que conhecia bem o pessoal de Go It Alone, Blue Monday, Champion pois morou em Seattle de 2005 a 2008.

A banda de abertura tocou e o som não tinha nada a ver com o nosso. Muitas influências de Slayer, entre outras bandas da metalada dos anos 80... O vocalista era o baterista e tornou a cena um pouco fora do normal. Tocámos a seguir e foi fixe, não estavam muitas pessoas mas as que estavam fizeram a festa. No fim da noite pagaram bom cachet e deram hotel.

Eu e o Valter acabámos por ficar a dormir na carrinha com -1ºC, ou seja, um frio de morrer enquanto que o Renato, Diogo, Patrick e Edgar  ficaram à boss no hotel.  Despertador a tocar às 7 da manha e seguimos viagem em direcção a Portugal.

DIA 12 – PORTO / PORTUGAL 



O Porto é uma cidade muito especial para nós. Sempre fomos bem recebidos, é uma cidade brutal com uma cultura musical acima da média. Viagem de 6 horas e com muita ansiedade por voltar a casa, mas também com alguma tristeza por ser a última data da tour. Chegámos à fronteira e fizemos alta festa, parámos logo na primeira bomba para carregar telemóveis  telefonar e mandar mensagens a namoradas e familiares e mal chegámos à primeira SCUT desatinámos logo. 

Chegámos ao Altar por volta das 3 da tarde já o Ricardo da On The Attack bookings e o resto das bandas andavam por lá. Tivemos a ajuda preciosa do pessoal para ajudar a descarregar e a montar o backline no clube. Houve um stress com o PA e os Blackjackers conseguiram safar um monitor para fazer de PA... DIY ! Acabou por resultar sem stresses.

Do pouco que vi de Blackjackers, fez-me lembrar Bad Brains na fase mais marada do Rise e do God of Love, fixe! A seguir, tocou Cruel Mind e foi uma trashalhada mesmo à antiga. Ainda trocaram de posições a meio do set! Challenge a seguir e foi um set super abusado, foi bom ver o Edgar libertar toda a raiva e veneno e os miúdos a mosharem que nem loucos, tocaram Black Flag e foi lindo.

Tocámos a seguir e, apesar de termos tido alguns problemas técnicos, foi fixe. Já tivemos melhores casas no Porto. Supostamente houve um concerto no mesmo dia, à mesma hora na Casa Viva. Arrumar tudo na carrinha à pressa porque a responsável do Altar tinha de bazar e despedimo-nos do pessoal. 

O Major ficou no Porto porque está a estudar lá e descemos com o Peter e mais uma amiga do Renato. Fizemos uns desvios pelo caminho para deixar o pessoal e acabei por chegar sozinho a Faro eram 5 da manhã com uma carrinha completamente suja e cheia de backline para descarregar. Levantei-me às 10 da manhã, descarreguei tudo para dentro de casa, limpei a carrinha e fui entregá-la por volta da hora do almoço à ARCM. O Armindo ficou contente por a tour nos ter corrido bem, ainda voltámos com uns dinheiros na caixa da banda e com muita saudade da estrada.

Recebemos um feedback super positivo, tanto dos promotores como de pessoal que esteve nos concertos. Vendemos todas as shirts e discos que levámos e viemos de lá com vontade de fazer mais tours e de gravar um 7´´ em 2013.

Foi uma experiência brutal para todos e era algo que não fazia desde 2009. Como banda, a estrada pode fazer bem ou pode fazer mal. Ir em tour com uma banda é fixe, mas ires em tour com uma banda onde as pessoas são todas amigas e se dão super bem, é completamente diferente. Posso dizer que, de todas as tours que fiz, esta foi provavelmente a mais fixe por todo o ambiente que se gerou à volta da mesma; Pelo empenho que tivemos antes e durante, pelos sacrifícios que fizemos em largar os estudos, trabalhos, namoradas e família durante 2 semanas; Todas as conversas que tivémos, discos que ouvimos, paisagens que admirámos e amigos que conhecemos durante esta tour vão estar cá dentro para sempre. 



Ludgero / A Thousand Words